Colaboração Teatro en Sepia / Teatro El Katango
Lorena Cañuqueo e Ana Vivaldi
As cenas que vemos são parte de uma colaboração entre "Teatro en Sepia" (uma companhia de teatro de afro-descendentes dirigida por Alejandra Egido desde 2010), o grupo de Teatro Mapuche "El Katango" (dirigido desde 2002 por Miriam Álvarez), e o projeto CARLA. Este trabalho é baseado em pesquisas colaborativas. Nelas analisamos momentos centrais das peças, trocamos metodologias de pesquisa e encenação teatral e geramos uma discussão crítica de conceitos acadêmicos a partir de uma perspectiva enriquecida pelas experiências de ativismo. A colaboração levou à criação e performance dramatúrgica e à geração de conhecimentos teóricos.
Propiciamos metodologias de ativismo crítico que abrem espaços nos vínculos entre ativismo e academia. Também utilizamos tradições de etnografia colaborativa latino-americanas, nas quais o conhecimento é dialogicamente constituído. Usamos ainda a transversalidade e práticas de tradução. A transversalidade gera formas em comum sem para isso homogeneizar experiências e identidades. Colocamos em comum as disputas específicas do Afro e do Mapuche que compartilham de um horizonte sem se submeterem a uma linguagem que reduza sua heterogeneidade. A tradução tem a ver com o compartilhamento de estratégias políticas de um espaço para outro, adaptando as práticas ao contexto e aos desejos de cada espaço.
A discussão levou a novas questões de pesquisa, várias das quais foram trabalhadas em comunicações apresentadas conjuntamente em conferências. A partir de uma perspectiva interdisciplinar e interseccional, abordamos como o racismo se expressa na Argentina, e que ações têm sido realizadas pelas populações e ativistas Mapuche e afro-descendentes. A pesquisa também produziu uma forma de criação dramatúrgica nova para o TES e o El Katango: um trabalho de investigação e escrita dramática que reuniu trajetórias afro e Mapuche.
O TES produziu um texto dramático com um personagem Mapuche, e o El Katango incorporou uma cena na qual uma mulher Afro e uma mulher Mapuche, ambas da Argentina, conversam (é possível baixar o texto dessa cena aqui) . As dramaturgas adicionaram elementos de pesquisa colaborativa para abordar, através de procedimentos poéticos, como o sistema de exclusão e inclusão da nação impacta as experiências afro e mapuche. A formação racial aparece materializada em uma dramaturgia que torna presentes os deslocamentos forçados e as corporalidades de mulheres que foram racializadas por um Estado-nação que historicamente silenciou suas presenças. A dramaturgia criada reune trajetórias que o Estado desconectou ao anular alianças possíveis entre povos indígenas, afro e outros não brancos.