Teatro en Sepia

Alejandra Egido, ed. Ana Vivaldi

A companhia Teatro en Sepia (TES) foi criada em 2010 pela diretora e atriz Alejandra Egido para confrontar a histórica e persistente indiferença e o esquecimento em relação à presença de africanos, afrodescendentes e escravizados na Argentina, assim como de migrantes afro-descendentes passados e atuais.

O TES discute a narrativa nacional argentina e abre fissuras nos discursos oficiais em um país que se considera forjado por imigrantes europeus que "chegaram dos navios" no final do século XIX. Um dos objetivos do trabalho da companhia TES é expor, por meio do teatro, a negação e a invisibilidade de afro-descendentes. A companhia tensiona a ideia de migração, concentrando-se em outros tipos de trajetórias ocultas, como navios de escravos ou a chegada de migrantes africanos no século XX e no presente. Ela coloca em questão o imaginário social argentino, mas evita a cristalização de identidades ao redor de exotismos.

Teatro en Sepia in a performance of How Much You Cobrás.

Imagem do TES durante uma apresentação de ¿Cuánto Cobrás?.

O TES produziu várias peças teatrais, incluindo a obra canônica Calunga Andumba, escrita pelas atrizes e dramaturgas afro-portenhas Carmen e Susana Platero. Posteriormente, a companhia se concentrou em trabalhar nas experiências específicas das mulheres afrodescendentes a partir de uma perspectiva feminista. Afrolatinoamericanas, de Egido e Geler, recorre ao trabalho de arquivo para retratar a experiência das mulheres afro em diferentes períodos da história.

A obra No es país para negras II, também de Egido, baseia-se em uma pesquisa social sobre as trajetórias das mulheres afro-portenhas. As obras Al costado del camino (À Beira da Estrada), La cadena invisible (A Cadeia Invisível), ¿Cuánto cobrás? (Quanto Você Cobra?) e Fuego amigo (incluída nesta exposição) aprofundam a dimensão afro-feminista da companhia.

A linguagem poética do TES propõe a criação de um espaço compartilhado, de reencontro com fragmentos de uma narrativa reprimida. Essa poética toma corpo, mente e palavra para transformar percepções e nos faz fluir além dos limites "raciais" impostos pelas estruturas racistas.
 

A cena faz parte de uma peça teatral situada em um futuro próximo pós-pandêmico. Ela conta a história de duas mulheres, uma mapuche e uma afro-argentina. Elas têm cerca de sessenta anos de idade e trabalham como técnicas que instalam sensores de vírus COVID-19 em semáforos – uma tecnologia desenvolvida por cientistas argentinos para medir altas concentrações do vírus. Para conseguir o trabalho, as mulheres devem ter “mobilidade propria”, mas, como não têm carro, ambas se movimentam a cavalo. Seu trabalho ocorre durante a madrugada em Pergamino, uma cidade da província de Buenos Aires localizada no que no século XIX foi a "fronteira" com as nações Mapuche.

Devido à pandemia, a peça foi ensaiada remotamente. Após dois meses de ensaio, as atrizes gravaram suas cenas em estúdios de Bariloche e Buenos Aires.

Ref.

Miriam Álvarez shoots her section of the scene in the city of San Carlos de Bariloche.
Miriam Álvarez filma sua parte da cena na cidade de San Carlos de Bariloche, sob a produção de Natalia Cano. Imagem de Natalia Cano

"Não sei se esses personagens se encontraram em uma mercearia do século XIX. Se não, hoje eles se encontram numa cena em que podem construir futuras narrativas furiosas, fruto de injustiças muito antigas.

Alejandra Egido

Alejandra Egido Shoots her scene in Buenos Aires with the production of José Lopez.
Alejandra Egido filma sua cena em Buenos Aires, sob a produção de José Lopez. Imagem: Ana Vivaldi
Miriam Álvarez watches her scene for Fuego Amigo before she continues with the shooting.
Miriam Álvarez assiste a sua cena para Fuego amigo antes de continuar com a filmagem. Foto: Natalia Cano.

Créditos

Autoria e direção: Alejandra Egido

Intérpretes: Alejandra Egido e Miriam Álvarez

Produção audiovisual: José López e Natalia Cano 

Pesquisa: as cenas foram criadas a partir da pesquisa colaborativa desenvolvida por Alejandra Egido, Miriam Álvarez, Lorena Cañuqueo e Ana Vivaldi, parte do projeto CARLA.

Dramaturgia clandestina. O texto dramático foi escrito no âmbito da oficina de redação dramática ditada por David Arancibia e parte da Dramaturgia Clandestina, um grupo de pesquisa cênica e editorial.