Margarita Ariza

Margarita Ariza Aguilar vive e trabalha em Cali, Colômbia. Ela compõe suas obras a partir de elementos do cotidiano e estabelece conexões e tensões com a história que lhe permitem questionar o pensamento colonial no presente e seus impactos sutis nos corpos das pessoas. A sua prática inclui performance, vídeo, desenho, pintura, escrita, criação de objetos, intervenção em espaços públicos, experiências participativas e ações colaborativas.

É especialista em Educação Artística, Cultura e Cidadania, e mestre em Filosofia. Ela também tem mestrado em Artes Vivas na Universidade Nacional da Colômbia. Seu projeto Blanco Porcelana (branco como porcelana) explora o impacto das aspirações à brancura como sistema de ordenamento social no âmbito do espaço doméstico, usando sua própria família e infância como recursos artísticos e criativos. Ela se concentra em práticas rotineiras de beleza com raízes em estruturas de colonialidade, que se manifestam em múltiplas formas de racismo cotidiano. Seu projeto foi censurado pela justiça colombiana em 2011, depois que membros de sua própria família apresentaram uma queixa por invasão de privacidade. Em 2015, o Tribunal Constitucional decidiu a favor do projeto, argumentando a favor de sua presente relevância por abordar temáticas sensíveis como o racismo na sociedade colombiana.

As colaborações de Margarita Ariza com o projeto CARLA para esta exposição consistem em várias peças (retratos) de sua autoria e uma videoarte realizada pela Fundação Roztro. Essas peças fazem parte de seu projeto Black Enough?, que dá continuidade a temas abordados em seu projeto Blanco Porcelana. Além disso, para esta exposição online, Ariza apresenta um vídeo-documentário de uma intervenção que fez em um espaço público.

O vídeo Um Retoque Cruel: O Presidente Negro da Colômbia faz parte do projeto Black Enough? (Preto o suficiente?), com curadoria de Margarita Ariza. É uma proposta de videoarte construída a partir de retratos pintados e fotografias do único presidente afrodescendente na história da Colômbia: Juan José Nieto Gil.

A videoarte combina duas linhas de reflexão: a) a relação entre "negritude" e ignorância/invisibilidade como expressão do racismo no campo da história e, b) a relação entre racismo, negritude e champeta, gênero musical popular em Cartagena.

Nas palavras do produtor ORZ Escallón da Fundação Roztro “esta música, em todas as suas versões, revela o racismo, o colonialismo e o elitismo com que temos que conviver enquanto champetúos [músicos e fãs de champeta]. Essa é uma experiência que compartilhamos com o presidente negro da Colômbia, Juan José Nieto Gil, que foi pintado, branqueado, escondido e apagado.” De forma similar, expressões de champeta têm sido excluídas e às vezes censuradas pelas autoridades da cidade.

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Como parte das obras expostas no projeto Black Enough? Margarita Ariza apresenta cinco retratos realizados com diferentes técnicas, através dos quais a imagem de Nieto Gil emerge/surge sobre tela, gravura, óleo, acetato ou acrílico. A insistência em fazer a imagem “aparecer” por meio de diversas técnicas alude a uma intenção político-estética de lutar contra a opacidade e a eliminação de sujeitos racializados na história.

Nos retratos de Ariza, a imagem de Nieto Gil questiona, pergunta e interpela, às vezes de forma obsessiva, os silêncios e apagamentos do negro no decorrer da história do país e nas esferas públicas de reconhecimento. A imagem de Nieto Gil torna-se incômoda e desperta sensibilidades no campo das narrativas presidenciais nacionais, construídas a partir da aspiração à “branquitude”.

Finalmente, o projeto Black Enough? estende sua reflexão até a eliminação de corpos racializados negativamente na atualidade. Assim, alude-se aos/às mais de 971 líderes afro-colombiano(a)s, indígenas e ambientalistas que foram eliminado(a)s de forma violenta entre 2016 e 2021. Essas ações permanecem impunes pela justiça colombiana.

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Partindo do questionamento sobre o lugar da prática artística, particularmente das artes vivas, e sobre a presença de corpos em  acontecimentos violentos e dolorosos, este vídeo propõe reconstruir registros, "provas", recuperar objetos, histórias orais e elementos visuais, a fim de fazer reaparecer um acontecimento recente: a repressão policial contra jovens manifestantes durante a onda de protestos ocorridos em todo o país devido a uma série de reformas tributárias governamentais.

Esses protestos levaram a uma Greve Nacional declarada por vários movimentos sociais, em 28 de maio de 2021 na Colômbia. À maneira de um "gesto", o vídeo pretende servir como mais um registro histórico fiel dos acontecimentos, e, ao mesmo tempo, dar conta de 'um corte sacrificial', nas palavras do pensador Achille Mbembe, que é severamente ativado sobre alguns corpos que são negativamente racializados e violentados.

Assim, combinando a técnica do pensamento-montagem com a enunciação oral, escrita e repetida de verbos que têm a ver com a ideia de “salvar” (proteger, amparar, cuidar, etc.), esta ação procura criar uma atmosfera performativa que funciona como um gesto de cura, ao invés de estetizar o horror ou reviver o conflito. Nesse contexto, o uso da planta medicinal "sálvia" é tomado como elemento simbólico, com efeito curativo, produzido pela invocação do autocuidado coletivo em meio às circunstâncias do terror do conflito.

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