Arissana Pataxó

Feita por Arissana Pataxó em 2009, a escultura Mikay ("pedra que corta" na língua Patxôhã) consiste em um facão de cerâmica que traz a pergunta "O que é ser índio pra você?", confrontando os estereótipos projetados sobre os povos indígenas no Brasil, reforçados pela literatura, pela imprensa e pelo sistema educacional. "Mikay" chama atenção para a violência infligida aos povos indígenas quando sua existência não corresponde ao "índio" genérico que muitos não indígenas têm em mente.

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A escultura Micay é seguida pelo tríptico Indigente, índio(o)gente, indígena(a)-te, de 2020, que lida com a questão do apagamento da identidade indígena. As intervenções da Arissana nesta série de retratos em preto e branco, provenientes do século XIX, podem ser lidas como uma abordagem do apagamento forçado e da invisibilização da indigeneidade na história colonial e recente do Brasil. Ao retirar os rostos dos retratados, Pataxó torna explícita a violência: são retratos sem rostos, sem marcadores, sem identidade. O título do tríptico joga com a conexão etimologicamente falsa entre as palavras "indigente" e "indígena".

Em português brasileiro, a palavra "indigente" não significa apenas pobre ou destituído, como em latim, mas é também um termo jurídico e jornalístico usado para descrever cadáveres não identificáveis, particularmente na expressão "enterrado como indigente" (ou seja, como alguém sem identidade e sem parentes). Arissana equipara a identidade perdida dos sujeitos fotografados à falta de identidade de cadáveres indigentes que são enterrados sem nome, sem parentes ou amigos.

Ao ligar as palavras "indigente" e "indígena", ela também enfrenta a desumanização racista dos indivíduos indígenas pelas práticas do conhecimento ocidental, um fato que se torna ainda mais explícito com a transformação poética da palavra indigente em "indio(é)gente" (índio é humano).

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