Naine Terena
Minha avó foi pega a laço
Instalação- 2022
Naine Terena
Algumas narrativas foram tão naturalizadas no Brasil que mal se percebe as violências raciais e de gênero que elas carregam. "Minha avó foi pega a laço" é uma dessas frases reproduzidas diariamente sem que se tenha um reconhecimento da histórica agressão vivida pelos indígenas no passado e no presente. “Pegar a laço”, para quem profere tal sentença, significa dizer que se tem uma ascendência indígena, por parte de uma avó/bisavó indígena, mas de maneira não consentida, pois pegar a laço significa pegar o animal bravio, que apresenta resistência à dominação. Nesse contexto, esta obra lida com a subjetividade e a objetividade do assunto: através dos laços de cetim, com as cores designadas ao feminino (no Brasil) e os emaranhados do metal, que cercam e cerceiam o corpo indígena, assim como no ditado que dá nome à obra.
Para completar a sua composição, há como paisagem sonora uma sessão na Câmara dos Deputados do Brasil, realizada em junho de 2021, onde se tenta votar o Projeto de Lei 490, que busca imprimir novas regras para a demarcação de terras indígenas. A paisagem traz as nuances de diálogos realizados entre deputados durante esta sessão, em especial a maneira como Joênia Wapixana, única deputada indígena (e a segunda deputada federal indígena da história do Brasil), é interpelada durante a sessão. Minha avó foi pega a laço dimensiona o racismo estrutural e a violência de gênero naturalizados em termos, ditos populares e atitudes enraizadas no imaginário nacional, que acabam reforçando a hostilidade aos povos indígenas.
Ficha Técnica
Texto curatorial
Naine Terena
Filmagem
Téo de Miranda
Edição de imagens
Naine Terena
Edição de áudio
Naine Terena
Montagem da instalação
Etane de Jesus, Naine Terena
Agradecimentos
Cine Teatro Cuiabá, pelo empréstimo do espaço para a montagem da obra